quinta-feira, 30 de março de 2017

Sessenta

Sessenta segundos, sessenta minutos, sessenta horas, sessenta dias, sessenta semanas, sessenta meses e já são sessenta anos!
Não que envelhecer seja algo fácil de se encarar. Não é. 
Tem algumas vantagens... a sabedoria, a forma como a gente passa a encarar a vida e os netos.
Ah, os netos! Eles são uma espécie de compensação. Você envelhece para recebê-los, como se fosse uma troca: a artrose pelos sorrisos deles; os cabelos brancos pelas perguntas mais incríveis que já te fizeram na vida; as rugas pelos abraços...
É muito bom ter netos! São a nossa renovação, nossa inspiração, nossa alegria no inverno da vida.
Eu queria falar sobre envelhecer, sobre as frustrações e o esmaecer do espírito, o vigor que aos poucos nos abandona, mas como posso pensar na velhice, quando a vida se refaz e se rejuvenesce a cada ano, através dos netos?
Há sete anos, ganhei meu neto Antonio.
A juventude ressurge intensa através dele! A inspiração dessa força e desse brilho que ele traz para minha existência afasta a rabugice pela falta de paciência com gente burra e teimosa. Netos são o sol, o brilho da vida na terceira idade.
Ao contrário dos filhos, que são nosso desafio, nosso descobrir, os netos são motivadores para que a gente se reinvente.
Quando se envelhece, descobre-se que os filhos são o seu legado e deles dependerá o seu conforto, ou o desafio de enfrentar o abandono. Eu creio ter feito um bom trabalho, porque meu filho é meu provedor, meu companheiro de toda a minha vida desde que nasceu e sou grata a ele por tudo o que me ensinou.
Envelhecer é como um compartimento construído de experiências boas e más, que consiste na nossa edificação. É o guardar lembranças desde a mais tenra idade, até o dia de ontem. 
Quando se envelhece, se dá de cara com tudo o que fizemos durante a vida e nos deparamos com a consciência de que não podemos nos lamentar, porque o tempo já passou e tudo mudou, mesmo sem a nossa participação. É isto! Descobrimos que não participamos de nada e a vida seguiu seu curso, distinta a nossa vontade. 
Pensamos que fizemos escolhas, mas na verdade, fomos levados ao sabor dos ventos. Acreditamos que tínhamos o poder de mudar as coisas, mas só o que fizemos foi nos acomodar diante de cada situação que se nos apresentou.
A diferença, quando se é jovem, é que nos empenhamos em lutar para modificar o que surge pela frente e, quando se envelhece, não nos damos o trabalho, porque já sabemos que o que tem que ser, será.
Na juventude, sonhamos com grandes realizações, mas quando envelhecemos, sonhamos com uma boa noite de sono, sem dor e sem termos que nos levantar várias vezes para ir ao banheiro. 
Na velhice, nossos parâmetros e exigências são totalmente modificados.
Quando se chega nesta fase da vida, a gente descobre que só fez costurar uma enorme colcha de retalhos e se passa a perguntar se ela foi bem costurada e se te servirá de alento e agasalho, ou se vai descosturar na primeira vez que você a estender sobre si.
Todas as incertezas que você tinha quando era jovem, se transformaram em certezas, no entanto, você passa a não ter convicção de mais nada, porque também aprendeu que tudo na vida é relativo.
Com o passar dos anos, amealhou segredos, amigos, inimigos, mas se teve a família como esteio, vai constatar que todos também envelheceram e cada um enfrenta seus próprios demônios interiores.
A beleza e o vigor da juventude se afastam definitivamente para dar lugar a um corpo que não é o ideal, mas você aprende a respeitar seus sinais.
Envelhecer é uma arte, sem dúvida! A arte da aceitação, da busca pela acomodação, porque já não tem mais tempo para mudar e, ainda que tivesse, você sempre se perguntará pra que?
Enfim, cheguei na terceira idade e olhando pra trás vejo que não sou autora de nenhum grande feito, mas sou uma mulher cansada das batalhas que vivi. Algumas eu ganhei, outras eu perdi, mas todas foram encaradas de frente e paguei cada preço que me foi cobrado por elas. Não me acovardei.
Agora, inicio nova fase na vida e espero que eu tenha discernimento e lucidez até o final dos meus dias. O resto administra-se!

Bom dia!