domingo, 22 de novembro de 2015

Conexão

Ela abriu os olhos e sentou-se na cama tentando "puxar" o ar que não conseguia lhe encher os pulmões. O coração estava enorme e pesado.
O pressentimento de que ele havia se casado era tão denso, que ela não queria confirmar.
Na verdade, apesar da forte ligação que sempre houve entre eles, já fazia muitos anos que eles se separaram, mas ela continuava tendo esses lampejos de avisos sobre algo que estava acontecendo com ele, como quando ele conheceu a primeira mulher, ao lhe fazer uma visita, ela lhe disse do nada, para cuidar bem da pessoa com quem ele estava saindo, que seria a esposa dele; Ele lhe olhou intrigado e respondeu que não estava namorando ninguém e que tinha conhecido uma moça na noite anterior. Ela sabia que seria a esposa dele.
Ou quando seu pai morreu, também sem a menor lógica, ao abrir uma gaveta onde jamais seria provável, deparou-se com uma foto dele (dessas 3 x 4), sobre as toalhas. Quando ligou pra ele, ele estava muito mal e disse que sabia que ela ligaria.
Ela se arrastou da cama para o chuveiro e foi trabalhar, carregando um peso enorme e pensando nele o tempo todo. Tentava se convencer que sabia que isso ia acontecer um dia, mas ainda assim, doía mais do que imaginou que doeria.
Trabalhava com o noivo, um chef italiano, no restaurante dele, porque a vida continuou para ela e para o grande amor da sua vida, apesar de não ficarem juntos. 
No final do expediente do almoço, ela não se conteve e ligou para a mãe do outro, para saber se estava tudo bem. Entusiasmada, a mãe lhe respondeu com uma pergunta: - Ah, o meu filho te contou que o casamento era hoje cedo?
As lágrimas foram descendo pelo rosto dela diante da confirmação e mesmo desejando do fundo do coração que ele fosse feliz, ela transmitiu os cumprimentos e procurou abreviar a conversa, porque já estava quase soluçando de dor, ante a constatação do que seu coração já sabia desde sempre.
Ao vê-la chorando em silêncio, o noivo lhe perguntou o que estava acontecendo e como a relação deles era de amizade, e não de amor, ela não lhe escondeu o que estava vivendo. Contou o que estava lhe ferindo de morte.
Num gesto de delicadeza, o noivo foi até o bar do restaurante, escolheu criteriosamente um licor de limão siciliano e serviu dois cálices.
Ofereceu a ela dizendo: "Quando a vida nos dá um limão, podemos fazer uma limonada, ou um delicioso licor. Beba em homenagem a esse amor tão grande, que eu jamais poderei merecer".
Nunca ela tinha sentido tanta gratidão pelo gesto de alguém, como sentiu naquele instante.
Entendeu o significado do gesto do noivo e bebeu à saúde e felicidade de ambos - o grande amor da sua vida e aquele amigo que estava para ser seu marido e certamente seria capaz de gestos delicados e senhor de uma generosidade que a encantaram.
Pode então, retomar sua vida com o coração mais leve e a esperança de que um dia, aquele amor interrompido por decisão de ambos, nem que fosse em outras existências, seria retomado e ela só conseguiu seguir adiante, porque acreditava profundamente nisso.

Boa tarde!