terça-feira, 15 de setembro de 2015

Valores

Pensa em alguém para se admirar. Essa moça, nasceu na favela, morou em barracos de lona onde chovia mais dentro do que fora do abrigo.
Cresceu no meio do tráfico, aprendeu como se rouba, mas jamais tirou um alfinete de ninguém!
O assassino do avô, cruzou com ela que brincava no caminho e perguntou onde poderia encontrá-lo. Em breve espaço de tempo ela ouviu o estampido da arma que o matou!
Quando criança, os outros avós e algumas tias a espancavam sistematicamente, a ponto de acordá-la no meio da noite, para a dose diária de murros e açoites com varas. A mãe vivia drogada ou doente internada... o pai biológico, não sabia o paradeiro e o padrasto, a quem chamava de pai, foi assassinado na sua frente e ela não tinha nem seis anos.
Quais as chances dela se tornar uma pessoa de bem, nesse ambiente?
Mas ela venceu tudo isso!
Muito inteligente, olhou para tudo a sua volta e entendeu que nada disso era bom. Não podia ser bom!
Saiu da cidade, estudou um pouco e foi trabalhar ainda muito menina. Depois dizem que trabalho infantil não é admissível! Tenho cá minhas dúvidas! No caso dela, pelo menos, foi o que a salvou!
Como babá, conviveu com pessoas que não faziam parte do contexto da sua infância e foi aprendendo que o bem surtia melhores efeitos que o mal.
Não tinha nem vinte anos, quando conheceu o pai do seu filho. Se apaixonaram!
Curiosamente, ele vinha de uma família conturbada também (talvez essa tenha sido a razão da identificação deles), porque mesmo os irmãos dele envolvidos com o tráfico, ele preferiu estudar e não se aventurar no mundo do crime. Constituíram uma família linda!
Ontem, ela me contou que se separaram. Fiquei triste com a notícia, porque formavam um lindo casal!
Ele a estava traindo há muito tempo.
Enquanto ela me contava, eu via a dor e o sofrimento em seus olhinhos que se negavam a derramar uma única lágrima. 
Essa menina forte, corajosa, determinada, estava visivelmente ferida. O companheiro a tinha ferido em seus princípios rígidos, onde o amor ao filho e a dedicação à família, tinham sido sua maior razão de vida!
Seus valores, ela cultivou um a um sozinha e, quando pensou que ajudando o companheiro a superar suas dificuldades e estudar com afinco para vencer na vida seria o bastante para manter a unidade familiar, se depara com essa traição.
Ele não a traiu simplesmente! Traiu sua dedicação por anos! Traiu seus cuidados ainda grávida, quando ele sofreu um acidente e foi lançado por meses numa cama, enquanto ela fazia sua jornada de trabalho para colocar comida em casa e à noite, tratava dos ferimentos dele e o banhava e alimentava com muito amor.
Traiu a juventude dela, que abdicou das baladas com as amigas, pela vida em família e sua entrega incondicional a ele.
Ele traiu seus valores!
Enquanto as pessoas não tiverem respeito umas pelas outras e por si mesmas, vamos encontrar histórias assim, mas com algumas diferenças:
Nessa história, ela seguirá o caminho do bem. Está voltando para sua cidade, com seu lindo filho nos braços e a certeza de que fez o seu melhor.
Ele... bem, já não se pode ter a certeza de que continuará no bom caminho. Seus valores não são os mesmos que os dela. 
Como seria bom se a vida pudesse contar um final feliz pra todos...
Espero que ela encontre um final feliz!

Boa tarde!

domingo, 6 de setembro de 2015

Domingando

Aos domingos, fico mais preguiçosa, menos urgente, e me permito o sabor de ficar na cama "morgando", sem pensar nada, sem querer nada.
Por alguns segundos isso é fascinante, até que algum trinido de pássaro sobrevoando ao longe, instiga meus cachorros que latem eufóricos com a visita da ave e me tiram do torpor.
Então, penso na xícara de café quentinho, mas desisto em seguida... vontade é algo bom porque dá e passa.
Ai, lembro do almoço em família e vem aquele gostinho de nostalgia, a saudade do Kokão, da mamãe... do meu irmão que mora longe, e prefiro afastar esses sentimentos, porque machucam e em dia de domingo, a gente não precisa se machucar.
Lembro de uma música. Qual era mesmo? Já esqueci. Mas domingo, a gente pode esquecer.
E me pego pensando no bolo que eu quero fazer para o meu filho e o meu neto que deverão passar aqui mais à tardinha, hum... acho melhor levantar.
Coloco o café na cafeteira e penso em voltar para a cama, mas me sinto inspirada pelo cheirinho do café e venho aqui para me expressar, contar esses devaneios simples, mas que têm um sabor muito especial, porque têm gosto e cheiro de domingo.
Sorvo os goles do café quentinho enquanto escrevo pensando se vão gostar, ou se vão se encontrar comigo nestas linhas. É bom saber que tem gente que aprecia o que escrevo. Isso me estimula.
Então, olho a hora e vejo que quase metade do dia já se foi e é hora de voltar às engrenagens da vida.
Domingo é feito pra gente não ter pressa, mas o relógio é meu senhor e a vida lá fora, clama pelo bolo que vou fazer, pelos meus cachorros que esperam o meu bom dia com um pouquinho de brincadeiras e com o cotidiano da segunda-feira que está chegando mais depressa do que eu pretendia.
Lá vou eu!
Junto a coragem e sigo para os afazeres de hoje, voltando à pressa de todo dia, para dar cabo de tudo o que pretendo fazer.
É, domingo é assim, igual a todo dia, só que a gente pode ficar mais um pouquinho na cama, domingando, sem fazer nada, sem pensar em nada, nem que seja por mínimos segundos, mas é muito bom... pena que nem todo dia é domingo.

Bom dia!



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Mulher

Eu gosto de ser mulher.
Gosto da feminilidade, da força, do poder de persuasão que temos.
A maternidade, uma peculiaridade só nossa, das fêmeas, destinadas à perpetuação da raça humana, e, com exceção de alguns exemplares do mundo animal, também das outras espécies entre os seres vivos.
Mas acredito que não estamos sozinhos... 
Me pego a cismar, se em outros planetas habitados, se o papel da mulher (fêmea), é tão, mais ou menos importante, observado, enaltecido e como aqui também, desrespeitado, humilhado, constrangido, escravizado, negligenciado...
Como será?
Pois estamos em pleno terceiro milênio e a mulher ainda é vista como um ser inferior, destinada a procriar e trabalhar até não poder mais, sem que o salário seja equiparado ao do homem e com exceção do dia das mães, dia do aniversário, e festas de final de ano, quem é que se lembra de agradecer?
Nossa família se senta à mesa, come a boa comida que a mãe faz, ou a empregada (via de regra uma mulher), se farta, mas a menos que lhe seja perguntado, ninguém elogia, ou agradece!
Nenhum marido (com raras exceções), se lembra de perguntar como foi o seu dia...
Nem marido, nem filhos, se lembram de agradecer o menor gesto de carinho (e são tantos pequenos gestos carinhosos).
No noticiário, vemos mulheres ultrajadas, violentadas, humilhadas, desrespeitadas, mas não vemos nenhum movimento masculino exigindo que isso mude, por respeito a quem lhe deu a vida!
E por falar na vida, ah, como somos parideiras! Não importa se mãe de um, ou de sete, somos generosas com a vida. Nosso instinto maternal é forte e tanto entre os seres humanos, quanto no reino animal.
Mas apesar de tudo, se houver outra vida, quero ser mulher, porque eu gosto, gosto mesmo de ser mulher!


Boa noite.