quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal e Saudade

Já uns dias antes, começavam os preparativos. Eles se divertiam.
O pai, montava a árvore para a mãe decorar, mas ele participava de tudo. Preparava a casa para receber os filhos e netos com esmero, enquanto ela fazia a lista de compras para preparar a ceia.
Tinham as frutas, as bebidas, as novidades que ele encontrava no supermercado e trazia pra experimentarem... se aprovada a novidade, vinha para a mesa do natal.
Os presentinhos, ela vinha comprando desde outubro e guardando nas gavetas das cômodas, ou dentro do guarda-roupas. 
Cada telefonema da mãe com os filhos, pra desespero dele (detestava que se demorassem ao telefone), tudo era meticulosamente planejado novamente, com trocas de sugestões e um ou outro palpite que a faziam ou não, mudar de ideia quanto ao arranjo da mesa, ou até mesmo quanto à sobremesa, porque o cardápio principal era via de regra, mantido.
Quando chegava o grande dia, na medida em que os filhos chegavam, a alegria dele aflorava (ah, como gostava de casa cheia!), porque a cada um dos filhos ele dispensava uma atenção de pai, mas também de anfitrião!
Aos poucos, as vozes e alegria iam contagiando o ambiente e a música garantia que todos se mantivessem em movimento.
A mãe, esperava ansiosa pelos elogios, afinal, tudo tinha sido pensado e feito para ser perfeito - e não me recordo, o quanto mais simples pudessem ser esses momentos, que não tenham sido perfeitos.
E ao sinal da meia noite, quando os sinos badalavam ao longe e os fogos de artifícios espocavam, ele, o pai, os reunia a todos em círculo, fazia uma oração e todos se abraçavam! Era lindo!
Então, os presentes!
Sempre surpreendiam os filhos, com algo especial, não necessariamente caro, mas que causavam realmente olhares arregalados porque não era esperado.
O prazer deles era visível.
E sentavam-se todos em torno da mesa, para apreciar as iguarias que tinham sido preparadas com tanto esmero.
É, o natal lá em casa era um acontecimento... mas hoje, eles não estão mais aqui... 
Só nos deixaram as lembranças, as saudades e a certeza de que nos ensinaram a importância da confraternização e da união da família.
Natal, hoje pra mim, é mera recordação e saudade, mas momentos que levarei comigo pela eternidade, porque eram preciosos e eles fazem muita falta, mas fico feliz por terem me proporcionado tantas noites especiais ao longo de suas vidas.

Feliz natal!


sábado, 12 de dezembro de 2015

Adaptação

E a vida toma rumos que a gente não tem como mudar o curso.
Pensamos que temos este condão, porque temos a sensação de que as escolhas são nossas. Na verdade, quando não escolhemos, estamos permitindo que escolham por nós, mas ainda assim, o curso segue.
Como o rio que singra a terra e crava seu leito durante seu trajeto, vamos sedimentando nossa estrada com nossa esperança e nossa vontade de perseguir os sonhos.
São esses sonhos que nos motivam a seguir em frente sempre. Não importa quantos tombos a gente leve, ainda assim, somos compelidos a seguir em frente.
Projetos são deixados de lado durante o caminho, porque são inviáveis, impraticáveis, ou porque outros surgem com maiores possibilidades e mais atrativos.
O fato é que vamos nos adaptando. Essa capacidade que temos de nos moldar às situações mais adversas, é que nos move a continuar criando nossa história.
Percebemos que laços que deveriam ser eternos, não têm a força que se espera e ao se desfazerem, nos deixam impotentes, mas todo laço tem duas pontas. Se uma delas não se sustenta, não é possível.
Cogitamos nessas tentativas, prosperar no intento primeiro, mas nem nos damos conta que os desvios foram estabelecidos bem antes, como a rocha que obriga o rio desviar seu curso.
A vida plena, pode representar a diferença entre vencer ou perder. Seja qual for o resultado, ainda assim, fomos nós que tracejamos o caminho.
A cada desafio, novos elementos e a cada etapa vencida, fazemos a contabilidade que nem sempre nos preenche, mas ainda assim foi o que conseguimos conquistar.
Seja como for, nossa vida segue independente das escolhas que fazemos enquanto ao mesmo tempo, pelo resultado dessas escolhas.
Tudo muito ambíguo, mas necessário como a luz que só existe por permissão do breu. À ausência da luz se faz a sombra, que por sua vez, só pode deixar de ser quando o sol resplandece imponente na sua plenitude.
E, como somos humanos, seguimos firmes nos nossos desígnios, sem tempo para voltar e refazer nossas páginas. Não nos é permitido fazer um rascunho para passar a limpo depois.
Viver é sem dúvida um ato de bravura e coragem, independente dos feitos que somos capazes de realizar.

Bom dia!

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Inesquecível

Dizem que o primeiro sutiã, a gente nunca esquece. Deve ser verdade... o meu era horroroso, porque minha mãe seguiu todas as recomendações médicas! Risos...
Mas não foi para falar do primeiro sutiã que eu vim hoje. Foi pra falar do primeiro namorado.
O primeiro namorado, realmente é marcante para o resto da vida, mas não porque seja alguém especial, diferente nem nada. Apenas porque é ele quem define o marco onde termina definitivamente a infância e começa a adolescência. É por ele, o primeiro namorado, que a gente perde a leveza do coração puro e abandona definitivamente as bonecas, os bichinhos de pelúcia...
Como eu tenho uma irmã mais nova, brinquei de boneca até meus quatorze anos aproximadamente, mas desde os doze anos, elas já não me fascinavam tanto. Lembro que nessa época, me apaixonei pelo irmão de uma colega de escola.
Eu suspirava por ele... quando passava pelos corredores do colégio, enchia meu dia de encantamentos... mas nunca passou disso. Ele não estava nem ai pra mim!!! 
E na época, acho que ele não estava ainda nem ai para garotas... meninos amadurecem mais tarde.
Mas quando eu já tinha completado quinze anos, morando ainda em São Paulo, meu pai, pela primeira vez permitiu que eu viajasse para Uberaba (sem ele ou minha mãe), com uma prima dele, cujas filhas tinham as mesmas idades que eu e meus irmãos. Lá fomos nós, de ônibus para Uberaba. Então, eram dez horas de viagem (estrada ruim e ônibus pior ainda), para percorrer quatrocentos e oitenta quilômetros.
Já tínhamos nos acomodado nos assentos, minha prima ao lado da sua filha mais velha e eu em outro banco, na frente delas, quando entraram dois rapazes bem alegres e vieram na nossa direção e pela primeira vez, senti um frio percorrer a minha espinha, porque ambos olharam pra mim de um jeito diferente. Notei que estava sendo "paquerada".
Assim que o ônibus se pôs em movimento, ele sorriu e comentou alguma coisa, para iniciar uma conversa, mas tratei de desconversar, porque temia que meu pai me tirasse do ônibus se desconfiasse que algum menino estava tentando se aproximar, mesmo o veículo já tendo deixado a rodoviária, afinal, pais sempre descobrem essas coisas!
Não tardou para que a minha prima dormisse pesadamente e ele sem a menor cerimônia, buscou trocar de lugar com a pessoa que estava sentada ao meu lado. 
Ele era muito charmoso, tinha cabelos castanhos e fartos e um sorriso encantador. Me ofereceu um Drops, uma bala que a gente consumia muito naquele tempo. Aceitei.
Durante algum tempo, a gente conversou e ele que já tinha dezoito anos, foi conduzindo a conversa com maestria, enquanto eu por timidez, não ousava a responder com frases inteiras, usando apenas meias palavras.
Em dado momento, ele me beijou. 
Eu quase morri de vergonha e de medo! E, claro, ele percebeu que eu não sabia como fazer, mas foi delicado e voltou a conversar normalmente, até que me perguntou se eu tinha namorado.
Percebi que a pergunta era para ter certeza que eu nunca tinha beijado antes e desejei morrer naquele momento. Quase gritei para a minha prima me tirar dali, mas ela continuava dormindo...
E ele me beijou a segunda vez, mas agora, com calma, foi me orientando entre um sorriso e um toque dos lábios nos meus e quando eu consegui engrenar, ele sorriu satisfeito e lembro que comentou que estava diante de uma mosca branca. 
Era um elogio! Estava dizendo que eu era rara, única e que ele estava se sentindo privilegiado por ter me dado o meu primeiro beijo.
Namoramos por alguns meses porque ele morava também em São Paulo, até que um dia, meu pai o surpreendeu me beijando na sala, o pegou pela orelha (literalmente) e o colocou do outro lado da calçada da rua, advertindo-o que ninguém tocava na filha dele.
Os anos se passaram e nos reencontramos já adultos e sempre nos lembrávamos desses momentos tão lindos e delicados nas nossas vidas, com o carinho que essas recordações merecem.
Um dia, ele parou de responder as  minhas mensagens (ele morava em Santos, cidade do litoral paulista e eu morava em Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina). Tentei outros meios, sem sucesso, até que infelizmente, há um ano e pouco, soube que ele havia partido para sempre. Infarto.
Fiquei muito triste, porque meu primeiro namorado partiu sem se despedir de mim e eu não pude dizer a ele que é inesquecível.

Bom dia!

domingo, 22 de novembro de 2015

Conexão

Ela abriu os olhos e sentou-se na cama tentando "puxar" o ar que não conseguia lhe encher os pulmões. O coração estava enorme e pesado.
O pressentimento de que ele havia se casado era tão denso, que ela não queria confirmar.
Na verdade, apesar da forte ligação que sempre houve entre eles, já fazia muitos anos que eles se separaram, mas ela continuava tendo esses lampejos de avisos sobre algo que estava acontecendo com ele, como quando ele conheceu a primeira mulher, ao lhe fazer uma visita, ela lhe disse do nada, para cuidar bem da pessoa com quem ele estava saindo, que seria a esposa dele; Ele lhe olhou intrigado e respondeu que não estava namorando ninguém e que tinha conhecido uma moça na noite anterior. Ela sabia que seria a esposa dele.
Ou quando seu pai morreu, também sem a menor lógica, ao abrir uma gaveta onde jamais seria provável, deparou-se com uma foto dele (dessas 3 x 4), sobre as toalhas. Quando ligou pra ele, ele estava muito mal e disse que sabia que ela ligaria.
Ela se arrastou da cama para o chuveiro e foi trabalhar, carregando um peso enorme e pensando nele o tempo todo. Tentava se convencer que sabia que isso ia acontecer um dia, mas ainda assim, doía mais do que imaginou que doeria.
Trabalhava com o noivo, um chef italiano, no restaurante dele, porque a vida continuou para ela e para o grande amor da sua vida, apesar de não ficarem juntos. 
No final do expediente do almoço, ela não se conteve e ligou para a mãe do outro, para saber se estava tudo bem. Entusiasmada, a mãe lhe respondeu com uma pergunta: - Ah, o meu filho te contou que o casamento era hoje cedo?
As lágrimas foram descendo pelo rosto dela diante da confirmação e mesmo desejando do fundo do coração que ele fosse feliz, ela transmitiu os cumprimentos e procurou abreviar a conversa, porque já estava quase soluçando de dor, ante a constatação do que seu coração já sabia desde sempre.
Ao vê-la chorando em silêncio, o noivo lhe perguntou o que estava acontecendo e como a relação deles era de amizade, e não de amor, ela não lhe escondeu o que estava vivendo. Contou o que estava lhe ferindo de morte.
Num gesto de delicadeza, o noivo foi até o bar do restaurante, escolheu criteriosamente um licor de limão siciliano e serviu dois cálices.
Ofereceu a ela dizendo: "Quando a vida nos dá um limão, podemos fazer uma limonada, ou um delicioso licor. Beba em homenagem a esse amor tão grande, que eu jamais poderei merecer".
Nunca ela tinha sentido tanta gratidão pelo gesto de alguém, como sentiu naquele instante.
Entendeu o significado do gesto do noivo e bebeu à saúde e felicidade de ambos - o grande amor da sua vida e aquele amigo que estava para ser seu marido e certamente seria capaz de gestos delicados e senhor de uma generosidade que a encantaram.
Pode então, retomar sua vida com o coração mais leve e a esperança de que um dia, aquele amor interrompido por decisão de ambos, nem que fosse em outras existências, seria retomado e ela só conseguiu seguir adiante, porque acreditava profundamente nisso.

Boa tarde!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Conto

O Avesso
(escrito em Uberaba, no dia 13 de outubro de 1988, aos 49 minutos)

Era como se eu virasse mais uma página daquele romance bem água com açúcar.
É, daqueles que a gente sabe que no final, o mocinho fica com a mocinha, sem importar o quanto ele tenha sido o bandido ou ela a 'megera indomável'. 
O famoso "happy end".
No fundo, sabia que o bandido estava mesmo fazendo o papel de mocinho, enquanto a pobre mocinha frágil passava pela bruxa má.
Mas virei a página assim mesmo. Quase desinteressada. 
Quando me dei conta, o enredo fora modificado - a estória agora era outra - senti como se o verão estivesse chegando e o calor no coração gelasse todo o meu corpo.
Ali, tudo era brincadeira, num imenso carrossel de verdade.
Bonitos eram os monstros pregados nas paredes da imaginação, enquanto o certo era tropeçar no amor, depois recomeçar nas esquinas do mundo, irreverente, como se fosse apenas passageira humana numa espaçonave de androides.
Passei os olhos pelas linhas daquela página e descobri que por mais que duvidasse, aquela paixão era o fim de tudo que estava começando.
Era como olhar por uma fresta, de fora para dentro, onde nada se via, já que a luz estava aqui.
Onde o real era meu reflexo no espelho e o sentimento, uma fantasia de carnaval.
Entrei naquele conto, como quem tira o pijama para dormir e, quando terminou, tive apenas que virar a página, reler as notícias do dia seguinte, que eram sempre iguais as do dia anterior, no jornal de hoje, enquanto saboreava o café quentinho da manhã que acabara de tirar da geladeira.
Então, conclui que mesmo estando na página seguinte daquele romance, que mudara a história, o avesso da vida era o meu cotidiano.
A vida em si era a autora daquela aventura, onde o direito não tinha rótulo, mas as personagens só conheciam aquilo que já tinha se apagado, enquanto dali de cima, eu olhava o rio correndo com o tempo e, a cada página virada, trocava também o sentimento de prateleira, colocando-o ora no lugar da amizade, ora no lugar do sexo, por vezes, na repartição do medo, mas sempre era o mesmo, de um lado ou de outro, sempre o amor, capaz de odiar intensamente cada lágrima derramada e sorrir mais tarde, pela lembrança daquela noite onde nem o bandido, nem a megera, puderam estar presentes.
O mocinho então, tomou a mocinha nos braços, afogando-se com ela no Lago dos Amantes, vivendo assim, como em todo conto de fadas, mortos e esquecidos para sempre. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Se achando!

Fomos apresentados e na outra semana, fui convidada para tomar um vinho.
Até ai, nada demais. 
Na hora combinada fui recebida na residência do novo amigo, com muita alegria e devo confessar, um grande anfitrião. Me deixou à vontade e foi gentil o tempo todo.
Ai, conversa vai, conversa vem, o cidadão, se achando, me diz que foi casado por muitos anos e que nunca foi fiel. Que ao mesmo tempo, tinha uma namorada, uma amante e ainda saía com outras mulheres.
Contou até mesmo que os mentores religiosos afirmaram que ele não estava cometendo nenhum "pecado" (o ranço machista da igreja).
Fiquei boquiaberta com sua desfaçatez, porque sentia que me contava aquilo com orgulho de macho poderoso.
Tentei argumentar sobre a fidelidade e lealdade, mas ele nem quis ouvir.
Aplaudi, quando entendi que ele estava convicto de que suas atitudes eram nobres. Não tem como a gente argumentar com o dono da verdade, tem?
Sai pensando no quão infeliz era aquele homem, aos sessenta e tantos anos, solitário e vivendo de recordações de um tempo onde ser "garanhão", era motivo de orgulho.
Ontem, porém, ele me ligou e me disse que queria me ver novamente. Claro que eu não lhe contei da decepção, mas tão cristalino também, que homem que não me dedica exclusividade, tem passagem livre pela minha vida.
Não sei se terei oportunidade de lhe dizer isto frente à frente, porque não sei se ele estará interessado em me ouvir, mas o fato é que me valorizo acima de tudo e, sob o meu ponto de vista, homem "galinha", não é e nunca foi tudo de bom!
Eu gosto do que é confiável e me acolhe para me propor segurança e viver, a essa altura do campeonato, uma relação onde a fidelidade, a lealdade e a exclusividade não são premissas na vida da outra pessoa, realmente não me interessa.
Já vivi o suficiente para saber que essa pessoa nunca vai mudar o seu comportamento, até porque está convicto de que é assim que tem que ser.
Poderemos ser amigos, sem dúvida, é uma pessoa alegre, divertida, mas não mais que isto.
Como dizem, "tô fora"!

Bom dia!

sábado, 10 de outubro de 2015

Antonio

Eu queria falar do dia das crianças, mas me veio à mente, o meu neto Antonio.
Ele vive a plenitude da infância, no auge dos seus 5 anos de idade, de onde descobre o mundo com alegria no coração e um brilho no olhar que só não é mais intenso que o seu sorriso e nem mais vibrante que a sua gargalhada.
Quando ele chega, todo o espaço é ocupado por sua grandeza. Quando ele vai embora, o silêncio adquire a profundeza do abismo.
Quando brinca, todas as fantasias são reais e toda realidade se transporta para um mundo distante.
A cada descoberta, uma experiência única se soma às já adquiridas e vai formatando a sua existência que há de ser plena. Sua inteligência, nos deixa a todos precavidos, porque ele é o símbolo do que será o futuro.
Ele aprende enquanto ensina e transforma tudo a sua volta. Toda criança é uma escola para adultos. Já pensou nisso?
O frio na barriga que a gente sente, quando o vê em perigo nas suas aventuras, deve ser igual para todo pai, toda mãe e todos os avós que amam, porque pra mim, é como se o estômago fosse parar na nuca.
Quando se fere, a sua dor pode ser sentida em mim, mas acredito, que dói mais no meu ser do que no dele. Quando com um beijinho passa, é um alívio indescritível.
Ser Antonio, é mais que ser criança. Ser Antonio (e todas as crianças são Antonios, Marias, Joãos, Anas...), é ser futuro, é ser incerteza, é ser desbravador, é ser coração cheio de esperança.
Penso que todas as famílias devem preservar ao máximo a infância de seus pequenos, porque eles não se dão conta, mas passa rápido demais.
Desejamos sempre que estejam guardados, protegidos, amparados, mas ao Antonio, desejo também que ninguém jamais lhe diga que não pode vencer!
Antonio trouxe brilho a minha vida e cores incríveis a cada dia da minha existência. Ele é o sol, a chuva e a lua prateada e mágica. Antonio é sinônimo de amor.
Que toda a sua infância seja leve, linda e que lhe traga marcas distintas a sua vida que há de ser vivida de tal modo que traga benefícios à humanidade que dependerá do que cada criança de hoje puder desenvolver durante sua trajetória.
Meu amor é incondicional. A vovó te ama, Antonio!

Boa tarde e feliz dia das crianças!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Valores

Pensa em alguém para se admirar. Essa moça, nasceu na favela, morou em barracos de lona onde chovia mais dentro do que fora do abrigo.
Cresceu no meio do tráfico, aprendeu como se rouba, mas jamais tirou um alfinete de ninguém!
O assassino do avô, cruzou com ela que brincava no caminho e perguntou onde poderia encontrá-lo. Em breve espaço de tempo ela ouviu o estampido da arma que o matou!
Quando criança, os outros avós e algumas tias a espancavam sistematicamente, a ponto de acordá-la no meio da noite, para a dose diária de murros e açoites com varas. A mãe vivia drogada ou doente internada... o pai biológico, não sabia o paradeiro e o padrasto, a quem chamava de pai, foi assassinado na sua frente e ela não tinha nem seis anos.
Quais as chances dela se tornar uma pessoa de bem, nesse ambiente?
Mas ela venceu tudo isso!
Muito inteligente, olhou para tudo a sua volta e entendeu que nada disso era bom. Não podia ser bom!
Saiu da cidade, estudou um pouco e foi trabalhar ainda muito menina. Depois dizem que trabalho infantil não é admissível! Tenho cá minhas dúvidas! No caso dela, pelo menos, foi o que a salvou!
Como babá, conviveu com pessoas que não faziam parte do contexto da sua infância e foi aprendendo que o bem surtia melhores efeitos que o mal.
Não tinha nem vinte anos, quando conheceu o pai do seu filho. Se apaixonaram!
Curiosamente, ele vinha de uma família conturbada também (talvez essa tenha sido a razão da identificação deles), porque mesmo os irmãos dele envolvidos com o tráfico, ele preferiu estudar e não se aventurar no mundo do crime. Constituíram uma família linda!
Ontem, ela me contou que se separaram. Fiquei triste com a notícia, porque formavam um lindo casal!
Ele a estava traindo há muito tempo.
Enquanto ela me contava, eu via a dor e o sofrimento em seus olhinhos que se negavam a derramar uma única lágrima. 
Essa menina forte, corajosa, determinada, estava visivelmente ferida. O companheiro a tinha ferido em seus princípios rígidos, onde o amor ao filho e a dedicação à família, tinham sido sua maior razão de vida!
Seus valores, ela cultivou um a um sozinha e, quando pensou que ajudando o companheiro a superar suas dificuldades e estudar com afinco para vencer na vida seria o bastante para manter a unidade familiar, se depara com essa traição.
Ele não a traiu simplesmente! Traiu sua dedicação por anos! Traiu seus cuidados ainda grávida, quando ele sofreu um acidente e foi lançado por meses numa cama, enquanto ela fazia sua jornada de trabalho para colocar comida em casa e à noite, tratava dos ferimentos dele e o banhava e alimentava com muito amor.
Traiu a juventude dela, que abdicou das baladas com as amigas, pela vida em família e sua entrega incondicional a ele.
Ele traiu seus valores!
Enquanto as pessoas não tiverem respeito umas pelas outras e por si mesmas, vamos encontrar histórias assim, mas com algumas diferenças:
Nessa história, ela seguirá o caminho do bem. Está voltando para sua cidade, com seu lindo filho nos braços e a certeza de que fez o seu melhor.
Ele... bem, já não se pode ter a certeza de que continuará no bom caminho. Seus valores não são os mesmos que os dela. 
Como seria bom se a vida pudesse contar um final feliz pra todos...
Espero que ela encontre um final feliz!

Boa tarde!

domingo, 6 de setembro de 2015

Domingando

Aos domingos, fico mais preguiçosa, menos urgente, e me permito o sabor de ficar na cama "morgando", sem pensar nada, sem querer nada.
Por alguns segundos isso é fascinante, até que algum trinido de pássaro sobrevoando ao longe, instiga meus cachorros que latem eufóricos com a visita da ave e me tiram do torpor.
Então, penso na xícara de café quentinho, mas desisto em seguida... vontade é algo bom porque dá e passa.
Ai, lembro do almoço em família e vem aquele gostinho de nostalgia, a saudade do Kokão, da mamãe... do meu irmão que mora longe, e prefiro afastar esses sentimentos, porque machucam e em dia de domingo, a gente não precisa se machucar.
Lembro de uma música. Qual era mesmo? Já esqueci. Mas domingo, a gente pode esquecer.
E me pego pensando no bolo que eu quero fazer para o meu filho e o meu neto que deverão passar aqui mais à tardinha, hum... acho melhor levantar.
Coloco o café na cafeteira e penso em voltar para a cama, mas me sinto inspirada pelo cheirinho do café e venho aqui para me expressar, contar esses devaneios simples, mas que têm um sabor muito especial, porque têm gosto e cheiro de domingo.
Sorvo os goles do café quentinho enquanto escrevo pensando se vão gostar, ou se vão se encontrar comigo nestas linhas. É bom saber que tem gente que aprecia o que escrevo. Isso me estimula.
Então, olho a hora e vejo que quase metade do dia já se foi e é hora de voltar às engrenagens da vida.
Domingo é feito pra gente não ter pressa, mas o relógio é meu senhor e a vida lá fora, clama pelo bolo que vou fazer, pelos meus cachorros que esperam o meu bom dia com um pouquinho de brincadeiras e com o cotidiano da segunda-feira que está chegando mais depressa do que eu pretendia.
Lá vou eu!
Junto a coragem e sigo para os afazeres de hoje, voltando à pressa de todo dia, para dar cabo de tudo o que pretendo fazer.
É, domingo é assim, igual a todo dia, só que a gente pode ficar mais um pouquinho na cama, domingando, sem fazer nada, sem pensar em nada, nem que seja por mínimos segundos, mas é muito bom... pena que nem todo dia é domingo.

Bom dia!



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Mulher

Eu gosto de ser mulher.
Gosto da feminilidade, da força, do poder de persuasão que temos.
A maternidade, uma peculiaridade só nossa, das fêmeas, destinadas à perpetuação da raça humana, e, com exceção de alguns exemplares do mundo animal, também das outras espécies entre os seres vivos.
Mas acredito que não estamos sozinhos... 
Me pego a cismar, se em outros planetas habitados, se o papel da mulher (fêmea), é tão, mais ou menos importante, observado, enaltecido e como aqui também, desrespeitado, humilhado, constrangido, escravizado, negligenciado...
Como será?
Pois estamos em pleno terceiro milênio e a mulher ainda é vista como um ser inferior, destinada a procriar e trabalhar até não poder mais, sem que o salário seja equiparado ao do homem e com exceção do dia das mães, dia do aniversário, e festas de final de ano, quem é que se lembra de agradecer?
Nossa família se senta à mesa, come a boa comida que a mãe faz, ou a empregada (via de regra uma mulher), se farta, mas a menos que lhe seja perguntado, ninguém elogia, ou agradece!
Nenhum marido (com raras exceções), se lembra de perguntar como foi o seu dia...
Nem marido, nem filhos, se lembram de agradecer o menor gesto de carinho (e são tantos pequenos gestos carinhosos).
No noticiário, vemos mulheres ultrajadas, violentadas, humilhadas, desrespeitadas, mas não vemos nenhum movimento masculino exigindo que isso mude, por respeito a quem lhe deu a vida!
E por falar na vida, ah, como somos parideiras! Não importa se mãe de um, ou de sete, somos generosas com a vida. Nosso instinto maternal é forte e tanto entre os seres humanos, quanto no reino animal.
Mas apesar de tudo, se houver outra vida, quero ser mulher, porque eu gosto, gosto mesmo de ser mulher!


Boa noite.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Espreitando

Dentre tantas pessoas que estavam ali, não imaginava que poderia encontrá-lo. Fiquei gelada. Ele estava rindo daquele jeito quase infantil, com seus olhos pequenos e aquela alegria que só ele tem.
Como de costume, estava rodeado de amigos. Pensei em me aproximar, mas desisti. Ele não estava desacompanhado...
Ela muito mais jovem, parecia à vontade no lugar que tinha sido meu. Até os amigos que também eram meus, se rendiam à simpatia que ela emanava. Traidores!
Do outro lado, sem que ele pudesse notar a minha presença, eu espreitava seus traços tão conhecidos meus, enquanto pensava em tudo o que tínhamos dividido. 
Ele pediu mais vinho e eu fiquei imaginando se eles conversavam como nós, por horas, com o vinho nos acompanhando. Talvez.
E de repente, ele olhou na minha direção, mas eu não sustentei o olhar, procurando me esquivar, de modo que ele não me visse, pois não saberia esconder meus sentimentos e o medo foi grande, mas se ele me viu, não demonstrou.
Fui tomada por uma onda que misturava ansiedade, saudade e indignação, enquanto as lembranças me invadiam e eu senti a mesma raiva que sentia quando o flagrava mentindo, dissimulando, dando desculpas difíceis de me convencer.
Pensei que devia sair dali. Não queria correr o risco de ser vista, mas sabia que o menor gesto meu, chamaria a sua atenção.
Continuei paralisada, observando seus movimentos, enquanto via o tempo passar e tentava agir com naturalidade na companhia dos amigos que estavam comigo.
Finalmente, todos daquela mesa se levantaram e foram saindo aos pares, levando o casal com eles...
Quando já tinham saído, eu pude relaxar e dei uma boa risada, que chamou a atenção do grupo em que me incluía.
Perguntada, respondi que tinha tido uma inspiração para outro conto, porque apesar de todo o sofrimento que ele me causou, isso não posso lhe negar: a fase de maior inspiração e produtividade, foi o tempo em que vivemos juntos. Ele tinha o dom de me motivar como ninguém. Foi um período muito fértil para a minha imaginação e por essa razão, pude rir, com essas linhas já desenhadas na minha mente.
Ele se foi, e eu pude aproveitar a noite. 

Bom dia!

domingo, 17 de maio de 2015

Escolha

Ela era jovem ainda. Seus cabelos negros e lisos, mesmo mal cuidados, tinham um brilho natural que apesar de não ser muito bonita, chamava atenção.
Pensou muito. Sentiu culpa. Teve vontade de desistir, mas sabia que não teria outra chance.
Naquela noite tomou sua decisão.
No dia seguinte, olhou para as quatro crianças no meio da sala, depois do simples café da manhã e até pensou em levar a menina, mas sabia que isso seria ainda mais cruel.
Colocou uma troca de roupas numa sacola, arrumou as camas, organizou a casa como pode e sempre olhando no relógio, porque não poderia deixar os filhos sozinhos por muito tempo, pois eram ainda muito pequenos, mas não poderia esperar o marido chegar para avisar que ia partir.
Pensou em deixar uma carta, mas achou que de qualquer forma, ele não entenderia. Nunca entendeu.
Quando faltava dez minutos para o marido chegar para o almoço, chamou o maiorzinho de sete anos e lhe disse para cuidar de seus irmãos até que o pai chegasse, que ela teria que dar uma saída. 
Colocou-os todos sentados no pequeno sofá puído e pediu que se comportassem. Pensou em lhes dar um último beijo, mas desistiu, para não tornar sua escolha ainda mais difícil.
Colocou a sacola no ombro, parou ainda na soleira da porta, mas não olhou para trás e nem para os filhos. Precisava ser forte.
Quando fechou a porta atrás de si, sabia que não teria mais volta e apressou o passo. Pensou ter ouvido uma das crianças chorando, mas logo se convenceu de que era impressão e andou ainda mais rápido, indo na direção contrária a que seu marido viria para não arriscar-se a encontrá-lo.
Já tinha andado por algum tempo, quando parou e ligou para ele, dizendo que o aguardava. Passados alguns minutos, ele estacionou o carro do outro lado da rua, foi ao seu encontro conduzindo-a até o carro para a sua nova vida.
Durante o trajeto, não fez perguntas. E ela, mesmo sem derramar uma única lágrima, tinha o coração destroçado por deixar os filhos, mas por outro lado, estava aliviada e se sentia, ainda que em conflito, confiante que teria uma vida melhor.
Não soube-se mais nem das crianças, nem da moça que as deixou naquela manhã, mas certamente, a vida se encarregou de cuidar para que todos vivessem aquilo que estava escrito para cada um.

Boa tarde!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Sutileza

Assistindo a um filme, fiquei surpresa com o que vi. Na cena, a babá ia saindo, quando o patrão a chamou e, tirando o seu suéter, entregou à moça e lhe disse para vesti-lo, pois estava muito frio.
Ele a ajudou a vestir o agasalho e ela que estava apaixonada pelo patrão, ficou ali, olhando para ele enquanto ele a vestia.
A cena foi de uma sensualidade surpreendente, de onde conclui que às vezes, o ato de vestir, pode ser tão sensual quanto o de despir, ou até mais, porque requer a delicadeza quase paternal/ maternal, mas ao mesmo tempo, cogita a cumplicidade que só pode existir entre pessoas apaixonadas e que cuidam uma da outra.
Enquanto o despir desarma o corpo, o vestir desnuda a alma!
O vestir faz com que a gente se entregue ao outro, pelo olhar, pela cumplicidade, pela entrega e confiança mútua.
Não raro, vejo o casal competindo entre si, quando deveria somar esforços. Enfrentar a vida, as dificuldades e adversidades juntos, cuidando um do outro, zelando, de modo que o vestir tenha a mesma qualidade que o despir, sendo contudo, que o vestir pode se repetir muitas e muitas vezes ao dia, sem importar a hora e o lugar, mas ao acontecer, será sempre mágico entre o par.
Vestir, pode ser tão sensual quanto despir, ou até mais, então, usando esse parâmetro, faça ai uma experiência com o seu companheiro/ companheira, cuide do outro, exerça o carinho ao outro, de tal modo que ele (ou ela) se sinta protegido, acolhido.
A sutileza no olhar, ou até o servir uma xícara de café, pode mudar o resultado do seu dia. Acredite!
Não sufoque! Apenas cuide com carinho.

Bom dia!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Natureza

Sem perceber, assim como a chuva, vou caindo de mim, escorrendo pela vida, que escoa minhas ambições e meus projetos.
Claro que posso mudar o curso do meu rio, mas nem sempre o tempo favorece uma decisão como essa.
Requer projeto e estratégia de grande impacto ambiental nas minhas estruturas.
Quem não pensou em represar os amores vividos de tal modo que eles ali permanecessem avolumados por diques que jamais precisariam que as comportas fossem abertas e toda a energia acumulada, só tivesse o propósito de iluminar o coração e a alma de cada um?
Alguns relacionamentos têm o poder de evaporar o sangue da gente... e ai, nos secam e a erosão corrói em forma de mágoa e ressentimento. Outros contudo, nos florescem a vida como a mata ribeirinha, deixando a leveza por onde caminha, sem que seja necessário que façamos nada, a não ser permitir que floresça e espalhe as sementes do amor.
Ah, se chovesse assim, todos os dias na minha vida, minha natureza seria mais generosa, mais abundante e certamente, meus amores mais ricos e profícuos, como aliás, acredito que seja inerente a todo ser humano.
O mar, na sua imensidão, é fonte de vida e de morte também, mas acolhe todo aquele que o enfrenta, seja para uma ou outra.
Curioso, é que depois de toda tempestade, vem a bonança, mas algumas são mais intensas e demoram mais deixando sua ira sobre a terra...


Boa tarde!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Cotidiano

Não sei o que fazer do meu dia. 
Não que não tenha o que fazer, mas estou desmotivada, sem algo que me impulsione para restaurar minhas forças e me devolver a confiança em mim mesma.
Acho que isso é envelhecer...
Estou conformada que a beleza física tenha ido embora, que o sorriso não seja mais o mesmo, que os cabelos não tenham mais o mesmo brilho...
Ou seria acomodada?
Não me importa mais, a falta de perspectiva, mas não que eu tenha desistido de mim... longe disso!
Apenas não está acontecendo nenhum fator externo que me motive e inspire. E não estou disposta a mudar isso no momento, ainda que esteja atenta a tudo a minha volta.
Pensei em fazer um curso de pintura em tela, mas não me vejo manejando telas, tintas e pincéis...
Também tenho pensado em voltar a trabalhar, mas ainda tenho tanta coisa para organizar na minha casa, onde preciso que esteja tudo em ordem para poder me encontrar e situar...
Claro que é passageiro, mas até quando? Preciso me mexer!
Precisar, preciso, mas cadê coragem? Risos...
Não é preguiça, que não sou afeita a isso... 
É anestesia mental, mesmo... estou improdutiva mentalmente... nada que eu faça, me tira desse torpor...
Todas as vezes que eu sofri um baque, logo me reergui e segui em frente, mas desta vez, está demorando mais... está mais difícil... acho que é a idade, ou a mudança não me fez bem!
Mudar de Florianópolis, mexeu muito comigo, mas a bem da verdade, lá também eu já me encontrava assim, sem ver a luz no fim do túnel.
O momento político (que é um assunto que me fascina), também tem me deixado apreensiva, mas nem isso me conecta com o mundo real... estou sem conexão com a vida...
Mais um dia, mais um desafio e, como tem que ser, vou buscando caminhos alternativos para me reencontrar. 
Vou conseguir, porque sempre consegui e agora não vai ser diferente, porque sou positivista e sei que é questão de tempo para retomar meu ritmo.


Bom dia!

domingo, 4 de janeiro de 2015

Existência

Enfim, o ano começa e descubro que tudo está exatamente como deve ser.
Fiquei sabendo que ele estava com outra pessoa, mas que ela não aguentou a sua infantilidade, apesar dos seus 80 anos e o deixou.
Pensou que fosse fácil? Acreditou mesmo que qualquer uma teria a paciência que eu tive, por todo o tempo que passamos juntos?
Tenho certeza que era feliz ao meu lado, mas não sabia... ou, se sabia, não valorizou...
Agora, sigo com meu coração em paz, refeita das angústias que ele me impunha, com suas mentiras e sua falta de caráter.
Não tenho planos e gosto que seja assim, prefiro que a vida me surpreenda...
Sonhos e projetos me motivam, mas nada que valha o esforço de tentar conduzir o destino. Tudo acontece na hora certa.
Vou seguindo, porque a vida continua e é bom saber que hoje vou fazer sorvete de chocolate para o meu neto.
Meus "filhotes", Anastácia, Belizária e Claudionor, estão estirados na sombra do quintal, para tentar minimizar o calor, que aqui é infernal, e o silêncio da casa me deixa preguiçosa, mas sem ansiedade, a vida se torna mais leve.
Me supero a cada dia e reinvento a vontade de viver, mesmo sem muitas aventuras, afinal, a vida por si só, já é uma caixinha de surpresas...
O que será que este ano me reserva? Não penso muito nisso e vou seguindo em frente, porque isso é bom. Viver é bom!

Boa tarde!


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Poema

Carinhos (escrito em Florianópolis, em 27 de agosto de 2002).

São carinhos,
caminhos e flores,
cores, cheiros e amores.
São carinhos,
o colo e o abraço
o beijo e o aconchego...

Carinhos são sorrisos,
olhares comprometidos,
confidências...

Cúmplices, são os carinhos.
Ouvidos, cantados, encantados,
mágicos sons.

E o rochedo recebe o mar,
num afã de carícias únicas,
onde são testemunhas,
sol, terra, estrelas e lua.

Carinhos são o céu,
coalhado de flores, 
o solo cravejado de estrelas
e os homens, colhendo amores...


Boa noite!

Ciúme

Ele os apresentou. Então, ela ficou ali, conversando e dando atenção exclusiva ao amigo, porque vinha da parte dele.
Por sua vez, ele tinha mesmo muitos convidados para atender e nem passava pela cabeça dela, que ele lhe desse atenção, a menor que fosse.
Como são sedutores os homens inteligentes!
Em poucos minutos, o amigo fez com que se sentisse à vontade, mesmo com a barreira dos seus idiomas.
Seu vocabulário italiano era muito limitado, e ele não falava uma única palavra em português, então, lhes sobraram as mãos, o sorriso, o olhar...
Quanta cumplicidade pode existir entre dois desconhecidos que não falam a mesma lingüa!
O assunto, apesar de tudo, era ameno, agradável e discutiam a justiça no Brasil, sem maiores pretensões.
Ele, por sua vez, estava atento, mas distante e ocupado com os demais convidados, sofria impossibilitado de vir participar da conversa alegre.
Pediu a ele, que servisse vinho ao amigo, mas se fez de desentendido e não serviu. O amigo, por iniciativa própria buscou as taças e os serviu do vinho gelado, que, abundante, trazia descontração ao ambiente.
Uma amiga contou, que ele não descuidava e, quando o amigo lhe entregou o cartão de visita, ele ficou angustiado, mas ainda assim, não podia do nada, interceder, enquanto aumentava o seu desconforto.
Num rompante, ele informou aos convidados que a reunião tinha acabado e que todos poderiam se retirar! 
Ela não tinha como transmitir a ideia, do clima constrangedor, quando o anfitrião, sempre tão polido e simpático, colocou as pessoas porta à fora, sem maiores justificativas...
Enquanto o amigo ainda tentava estabelecer vínculos, ele praticamente o tomava pelo braço e indicava a saída.
Ela buscou pela amiga, para se retirarem, mas enquanto ele recolhia as taças, ela se aproximou e tocou seu braço, sussurrando que tinha a intenção de ficar ainda um pouco com ele, quando num passe de mágica, ele quedou doce outra vez e disse que ela podia ficar.
Ele estava mortificado pelo ciúme!
Ela nunca mais soube do amigo...

Bom dia!

Avaliação

Esse texto foi escrito no final de janeiro de 2013, mas na época, fiquei na dúvida se publicava ou não, para evitar minha exposição ou possível conclusão por parte do protagonista, razão pela qual, só agora eu publico.

Louca, eu? 
Incrível, como quando a gente pensa, faz escolhas, assume riscos e se atira na vida, de cabeça, as pessoas desconversam, não é com elas!
Tive um relacionamento de dois anos e pouco, com um homem bem mais velho, que era mentiroso contumaz e habitual, porque ele precisa mentir, para sobreviver, com tantas mulheres que ele envolve, enreda e engana.
Na minha terra, isso tem o nome de 'mau caráter', mas enfim, para ele, é um modo de vida!
O que o leva a uma vida de mentiras, são diversos fatores, mas a mim, não chegavam a incomodar, porque na verdade, eram tão infantis e imaturas, as suas mentiras, que eu acabava descobrindo a grande maioria delas, e isso, só contribuía para que eu fosse me desencantando a cada nova mentira.
Durante todo o tempo do relacionamento, em que ele me jurava amor exclusivo (como fazia com as outras), eu ia surpreendendo suas mentiras, suas desculpas esfarrapadas e, por algum motivo, ia perdoando, ia passando por cima... ficava na bronca básica, e mostrava que ele não tinha me enganado, e tocava o barco, mas sempre avisando a ele, que se me desrespeitasse, eu não reagiria com tanta benevolência.
Ele me desrespeitou a primeira vez, fazendo pouco da minha pessoa, num almoço, repleto de amigos dele, com jornalistas de todo lugar do mundo, e então, eu analisei o contexto, levei tudo na brincadeira e, chegando em casa, avisei que não deveria repetir o que tinha feito, porque corria o risco de eu revidar e teríamos um espetáculo, que hoje entendo, para sua cara de pau, não faria a menor diferença!
Me desrespeitou a segunda vez, na ceia de Natal, na presença de amigos meus, quando passou a noite, a desfiar meus defeitos e me criticar, em coisas que não tinham a menor importância, mas ainda assim, tentava me diminuir, aos olhos dos meus amigos e na minha casa!
Quando nos encontramos, alguns dias depois, porque entre o Natal e o Ano Novo, ele teve tantas reuniões (mentirosas), tantos compromissos com amigos (mulheres outras que ele enganava igualmente), que só nos vimos no dia 9 de janeiro, quando eu disse que não haveria a terceira vez e, quarenta minutos depois da nossa conversa, lá estava ele, fazendo a mesma coisa, na casa de amigos meus, como se eu não tivesse a menor importância, no seu conceito - e, claro que eu não tinha, senão, ele teria mudado sua postura e conduta.
Brigamos e ele saiu sozinho, o que me levou a pensar se eu precisava disso... quando cheguei em casa, mandei uma mensagem para ele e o deletei de todos os meus contatos virtuais e pessoais, pois dei o caso por encerrado e resolvido.
Para minha surpresa, dei de cara acidentalmente, com uma troca de correspondência entre ele e uma amiga minha, onde ele, que não é psiquiatra, nem psicólogo, portanto não tem competência para me avaliar, afirmava que eu era louca, mentirosa e que não me encontrava bem emocionalmente!
O que mais me deixou irritada, não foi a sua opinião sobre mim, porque não dou importância ao que não tem importância, mas ao fato da minha amiga, concordar com ele (segundo ela, para não esticar o assunto), quando tanto quanto eu, ela sabe que eu não minto e o mentiroso é ele e, que de louca, eu não tenho nada, exceto o fato de ter dado a esse homem, dois anos da minha vida, investindo num relacionamento que ele não fez a menor questão de cultivar e respeitar.
Se olho agora para o fato, é que isso tem me incomodado, de algum modo, porque realmente, eu fui louca! Louca por me doar tanto! Louca, por ter tido tanta paciência! Louca, por ter investido em alguém que não me merece!
Quanto a ser mentirosa, isso chega a ser hilário, vindo de um mentiroso patológico, porque ele mente por tudo e para todos, e, tentando mais uma vez me desacreditar, porque é disso que vivem os mentirosos, fazer com que as pessoas a sua volta percam a credibilidade, aos olhos de sua platéia, com o fito de se sobrepor e fazer com que seus ouvintes acreditem no mentiroso e não em quem fala a verdade, que não chegou sequer a me deixar com raiva, porque ele e eu sabemos, que o mentiroso é ele!
Na condição de não estar bem emocionalmente, devo admitir, ele estava certo, pois o meu convívio com ele, me adoeceu, tanto que me entorpeceu, a ponto de eu permitir que chegasse tão longe!
Então, agora, estou curada de todos os males! Terminei esse relacionamento mentiroso, com esse homem doente, que me deixava louca... 

Bom dia!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Trajetória

E dormindo eu sonhei.
Sonhei que caminhava pela praia, enquanto o sol me perseguia. Sob os meus pés, a areia úmida e eu não plantava nada, mas ainda assim, colhia o que encontrava pelo caminho.
Não sabia exatamente porque estava fazendo aquilo, mas não podia parar.
Colhia folhas secas trazidas pelo vento, conchas, pedrinhas e até tampinhas de garrafas. Nada era bastante bom, mas era o que eu tinha para colher.
Quando acordei, senti que tinha perdido muito de mim mesma por aquele caminho. 
Envelheci.
O tempo não foi muito generoso, porque me senti judiada, mal tratada... ingrato o tempo!
Não posso me sentir plena, quando o vazio é maior que eu. Não posso perseverar na caminhada árida, quando o solo me rejeita e quando me vejo nessas cercanias, sei que fiz o meu melhor, mas de nada valeu, pois não colhi os frutos que pensava serem bons.
Reflito sobre o sonho e sei que não foi bom, porque faltaram elementos que talvez estivessem lá, mas não podiam ser vistos por mim e só pude colher o que a natureza me permitia, isto é, só pedrinhas, folhas secas, tampinhas de garrafas e algumas conchinhas quebradas...
Esse é o meu legado.  
Não tenho do que reclamar, porque pelo menos eu fiz a caminhada, mesmo que a trajetória não fosse a melhor. 
Assim, prefiro seguir no meu silêncio para não confundir aqueles que por ventura tenham sonhos melhores que os meus.

Boa tarde!