segunda-feira, 23 de julho de 2012

Compartilhando

O telefone tocou e ele me disse com a voz ainda embargada, que tinha chorado muito.
Quando perguntei porque chorou, se tinha acontecido alguma coisa, me contou que esteve conversando com a irmã mais velha e que recordaram momentos da infância, os quais ele já havia esquecido.
A história em si, é engraçada, porque quando era ainda muito pequeno, disse à mãe que estava com fome e, para lhe ensinar independência, a mãe lhe entregou algumas moedas e lhe disse que podia ir sozinho ao mercadinho perto de casa e comprar o que quisesse.
Feliz, ele saiu levando consigo, duas sacolas enormes e todo feliz, foi às compras. 
Contou que pensava, que se podia comprar o que quisesse, então, melhor seria levar logo duas bolsas das grandes!
Guloso, como toda criança, pegou presunto, queijo, pensou que desta vez, não ia comer margarina, mas manteiga, que na época, era muito caro! Também colocou nas bolsas, doces e outras delícias para ele, que estava se achando poderoso, com o tilintar das moedinhas nos bolsos...
Passou uma boa hora entre as gôndolas. Finalmente com as sacolas abarrotadas, se dirigiu ao caixa. 
Quando o dono do estabelecimento lhe disse o valor da compra, não tutibeou e estendeu-lhe a mãozinha pequena, contendo as moedinhas que a mãe lhe dera. Ele não conhecia o valor do dinheiro!
O homem, muito zangado, lhe disse que não era suficiente para pagar o que ele havia comprado e, como não tinha mais dinheiro, educadamente, e constrangido, aliás, muito sem graça, disse então ao homem, que lhe desse somente o que o dinheiro pudesse pagar.
O homem, não se fez de rogado e disse que primeiro, ele deveria devolver às prateleiras, tudo o que havia pegado.
Embaraçado e se sentindo humilhado, ele levou mais umas duas horas, para colocar tudo no lugar.
Preocupada, sua mãe foi com a irmã, ao mercadinho, procurar por ele. Quando chegaram e viram o menino reorganizando tudo, perguntaram porque ele estava fazendo aquele trabalho, ao que ele prontamente esclareceu o que havia sucedido.
A mãe lhe explicou então, que era para ele comprar o que quisesse, pensando que ia comprar um doce, ou algo do gênero e não todo o mercado!
Muito inteligente, ele se dirigiu ao dono da mercearia e perguntou o que dava para adquirir com as moedinhas, ao que o homem respondeu que dava para comprar certa quantidade de margarina.
O pequeno, imediatamente, perguntou quanto de manteiga daria para levar, ao que o homem lhe disse que só daria para comprar a metade do que levaria em margarina, ao que de pronto, com oito anos, ele retrucou, ainda que fosse pouco, preferiria a manteiga, pois de algum modo, teria que ver seu desejo satisfeito, mesmo que começando com menos! 
Isso é que é determinação! 
Mas estou contando isso, porque o mais importante, foi ele ligar para compartilhar comigo!
A margarina, pode até ser mais barata que a manteiga, mas ele ter dividido essa lembrança comigo, não tem preço!

Boa noite!

sábado, 14 de julho de 2012

Cicatrizes

Meu corpo tem muitas cicatrizes.
As marcas que o tempo me fez.
Umas, para salvar minha vida, outras, para perdê-la!
São sinais que marcaram meu corpo e minh' alma...
Algumas eu quis, outras, me foram impostas...
De umas, me orgulho, outras escondo...
Meu corpo tem marcas da minha história, que construiram a minha vida.
Algumas cicatrizes, são profundas, atingiram a minha alma, minha essência... já outras, são superficiais, mas também têm algo a dizer sobre mim.
Nem de longe, meu corpo é perfeito, mas nada na vida é.  A forma, a textura, falam por si, sobre o resultado.
As rugas, são cicatrizes do tempo, as marcas no meu corpo, são cicatrizes da vida.
Cada corte na carne, cortou meu amor próprio de uma forma única, sendo que alguns deles, me elevaram e outros, me modificaram, enquanto uns tantos, me mortificaram...
O tempo imprimiu em mim (e continua agindo), sua lingüagem própria, que me transformou por dentro e por fora.
A vida, imprimiu em mim (e tomara que não pare de fazê-lo), o significado de conquistas, de lutas vencidas, de males sanados, de amores correspondidos ou não, de frustrações, angústias, mas também de momentos únicos, felizes e memoráveis...
Meu corpo não é perfeito. Mas qual seria a vantegem disso, se eu não tivesse uma vida pra contar, uma história já vivida, uma estrada percorrida e tantas descobertas ainda...
Minh' alma, não é, nem pretendo que seja, a perfeição, mas também há beleza numa colcha de retalhos, não?
Tenho muitas cicatrizes, mas meu coração, intacto, ainda pode amar, sorrir, chorar por inteiro, porque continua intocado!

Boa noite!