segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dor

Conheço um médico, que escreveu um livro cujo título é:
"Não se cria galinhas para as galinhas".
É uma coletânea de diversos contos. Entre eles, tem um que me marcou, pela comparação que ele faz. 
Uma menina entra numa casa, aos berros, inconsolável à procura da sua mãe, para queixar-se que os sapatos que ela queria comprar, não foram mais encontrados na cor que ela queria. Essa menina, estava realmente desacorçoada, por isso... a ponto de não se dar conta que estava num velório.
Era tão cruel a dor dela, ante a dor da mãe, pranteando o filho morto, porque a dimensão proporcional das duas dores, a da mãe que perdera o filho e a da menina, que não conseguiu comprar os sapatos, para ambas, era dor, mas lado a lado, cada dor tinha um princípio diferente.
Nossas perdas materiais ou de oportunidades, ou até mesmo de um amor, ficam ínfimas, banais, ante a perda definitiva de entes queridos, como pais, filhos, irmãos, amigos e até nossos animais de estimação...
Hoje, minha família está enlutada e sofrendo uma dor real, pela perda precoce do Pedro, um lindo menino inteligente, meigo, doce, alegre, aos 7 anos, atropelado por um inconseqüente, que vinha em alta velocidade e não avistou o ponei e o menino, atravessando a via ou, se viu, não conseguiu frear o veículo. Não sabemos se estava ou não embriagado, porque o motorista fugiu do local, sem prestar socorro, deixando pra trás, o pai, em desespero, sem saber o que fazer com o filho morto em seus braços.
O fato é que essa dor sim, tem razão de ser e é justificável, enquanto as outras, perdem importância. Ficam sem sentido.
Nenhum pai ou mãe, deveria passar pela experiência de sepultar um filho, porque é a inversão da ordem das coisas. É uma dor que dói nas entranhas...
Mas se assim é, e deve ser porque assim tem de ser, que ao menos esses pais e mães possam ter forças para suportar essa dor que jamais se calará, jamais será amenizada. 
Que esses pais possam olhar a vida, que nunca mais terá a mesma alegria, pelo menos superando o gosto amargo que será eterno em suas bocas e que seus corações não se tornem áridos, ante a força dessa dor.
Que ao menos, não percam a capacidade de amar.
O Pedro era uma criança feliz. Então, ainda que para nosso consolo, queremos crer que esteja entre os anjos, ao lado de outras crianças, superando também o desafio de ficar longe de seus pais, avós e primos, com uma saudade infantil, que talvez ele possa compreender, porque nós, aqui, dificilmente compreenderemos.
Que você, Pedro Augusto, leve o beijo da "tivó", e fique bem guardado, em paz.
Bom dia!