sábado, 23 de abril de 2011

Malhando o Judas

Quando eu era criança, a rua na qual nasci e morava, era habitada por 70% de portugueses. Todos muito religiosos. 
No dia de hoje (sábado de aleluia), eles faziam um boneco que era recheado de palha, papel e pano velho e o vestiam, mas não sem lhe dar uma cara, normalmente feita com botões e retalhos de panos para colorir os lábios, enfim...
Levavam horas, confeccionando o boneco, que depois, era içado e pendurado num poste da rua, e ali, ao meio dia, o enchiam de pauladas até que ele se desfizesse por inteiro, quando então, ateavam fogo no que restava da palha, papel e pano velho que tivessem dado forma ao corpo do boneco, até que se fizesse em cinzas.
Eu assistia aquilo, sem entender a razão de tanto trabalho, para em seguida destruir. Não via sentido.
Hoje, vejo que a vida nada mais é do que o resultado daquilo que construímos para destruirmos, através das nossas atitudes, ao longo dos anos. 
Construímos famílias que os desentendimentos, o alcoolismo, a violência, a falta de paciência e intransigência destroem; 
Construímos relações afetivas, que a traição e os interesses pessoais destroem;
Construímos laços profissionais que a ganância e a falta de objetivos comuns destroem;
Tudo o que passamos horas, dias, semanas, meses e anos construíndo, destruímos em segundos, numa briga, num defender ferrenho de ponto de vista, por orgulho e vaidade, até que restem somente as cinzas daquilo que poderia ter sido sólido, bom, verdadeiro, por séculos.
Acho que é da natureza humana, "malhar o Judas". A gente tem o dom de criticar no outro, aquilo que nos incomoda em nós mesmos e ai, buscamos a "fênix" que exite em nós, para tentarmos renascer das cinzas dos nossos erros.

Bom dia!