domingo, 6 de novembro de 2011

Constatação

Fiquei ali parada, olhando para aquela mulher de olhos empapuçados e cabelos desalinhados, que me olhava de volta, com ares de quem me conhecia melhor que eu mesma.
A desconhecida me obrigava a questionar se meus atos estavam me levando pelo caminho certo para alcançar meus objetivos e isso, por certo me trazia desconforto.
Não era preciso dizer nada, porque eu sabia que a resposta era não.
Repensei meus atos, vasculhei minhas lembranças, refiz caminhos percorridos até aqui, mas não vi nada do que eu pudesse me orgulhar... uma vida sem nenhum feito extraordinário, sem nenhum acontecimento que tivesse algum significado maior...
Lamentei em silêncio, o meu mundo vazio.
Quando então a mulher sorriu e me olhou meneando a cabeça, como se estivesse reprovando a resposta...
Então, voltei-me para todas as coisas simples que realizei na vida:
Com surpresa, relembrei momentos mágicos em família, o riso solto, de quando a gente era criança, as traquinagens, as coisas erradas que a gente jurava que papai e mamãe jamais descobririam, mas que sempre acabavam em castigos, as brincadeiras de rua, os amigos de infância...
Depois a adolescência e quantos amigos eu tinha (a maioria, mantida até hoje), quanto era requisitada para festas e trabalhos no colégio e quanto eu tinha sido referência para os meus irmãos...
Também me lembrei do meu primeiro casamento, a igreja cheia de amigos de longe, a família feliz e meus pais e irmãos, muito emocionados...
Claro, que a chegada do meu filho, também me remeteu às lembranças mais incríveis! O balbuciar dos primeiros sons, os primeiros dentinhos, os primeiros passos, a primeira arte...
Lembrei dos prêmios profissionais que recebi, das convocações, para resolver e administrar problemas, as soluções encontradas e o reconhecimento...
Recordei momentos difíceis superados, pessoas e animais amados que partiram, etapas vencidas da melhor maneira, apesar da dor da perda...
Também recomemorei a formatura do meu filho, com tanto prestígio entre seus colegas e professores, a encher de orgulho o coração de qualquer mãe...
As lágrimas pela partida da minha mãe, o sorriso do meu neto, renovando a vida, as formaturas e casamentos dos irmãos e mais tarde, dos sobrinhos queridos; Os sobrinhos netos nascendo, a partida precoce do sobrinho neto mais velho, o nascimento de outros bebês na família...
E quando olhei novamente para a mulher, eu sabia que a resposta certa era sim; Eu tinha feito o melhor caminho! 
Eu fiz o que podia fazer! Eu tinha dado o máximo para realizar pequenos feitos, que num primeiro momento, até podem parecer sem importância, mas todos foram vividos com alicerces verdadeiros e intensos.
A partir deles, construí a minha história. Vivi uma vida plena e enfrentei meus demônios pessoais, sem recuar diante das adversidades.
Sim, eu sou o produto do meu melhor, então, olhando cuidadosamente para o meu passado, tive a certeza de que faria tudo igual novamente. 
Descobri que a mulher agora, estava alinhada, penteada e sorria leve, mas sinceramente para mim, com a certeza que envelhecer, não precisa necessariamente ser um ato para esvaziar a alma, mas antes, um processo para armazenar nossas experiências e nossos feitos, que por mais simples que possam parecer, fazem toda a diferença diante daqueles que nos amam de verdade.
E afinal, a mulher do espelho, nem estava mais tão velha e tão desalinhada... agora, seus olhos não estavam mais empapuçados, mas tinham ainda algum brilho, o resquício da juventude...
Minhas lembranças a tinham revigorado!

Boa tarde! 

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo demais Helena, adoro a forma que vc coloca tudo nos seus textos, e a importancia que vc dá a familia, enfim em tudo, parabéns!!!!!

Rosani Cruz